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Fuga no Serrotão: Existe preso de confiança?


A fuga de um preso do presídio do Serrotão em Campina Grande, na noite do último sábado (10), movimentou as redações de jornais do estado, uma vez que fuga de preso deve mesmo ser publicada.

Ele e outro detento, que trabalham na cozinha da penitenciária, foram chamados para trabalhar num churrasco promovido pelos agentes, numa confraternização de fim de ano.
Excetuando-se os exageros de quem notadamente busca notoriedade pela pirotecnia, a imprensa deve ser livre para fazer o velho e bom jornalismo. Caso contrário, nunca teremos a democracia – e a segurança pública! – que desejamos.
Em conversa com agentes, jornalistas e ‘humanistas’ sobre o assunto – ou seja, após debatermos com os segmentos mais ‘ligados’ ao caso – relatamos abaixo, entre perguntas e respostas ali discutidas, um cenário que consideramos ‘mais amplo’ do episódio.
Pode dois presos serem levados para churrascos de agentes?
Depende. Primeiro, porque a saída foi autorizada pelo juizado da Execução Penal. Em segundo lugar, não se trata apenas de ‘levar presos para churrasco’, mas um caso isolado de uma festa de confraternização dos agentes. A ladainha que se ouve no Brasil inteiro em termos de execução penal é a tal ‘ressocialização’ de apenados, que, dentre outras medidas, requer aproximação e voto de confiança a quem, em tese, mereceria uma segunda chance. Isso é cobrado o tempo inteiro pelos mais variados segmentos da sociedade, especialmente os religiosos. Na verdade, o preso no Brasil deveria trabalhar não apenas em churrascos, mas nas ruas, estradas, avenidas, escolas, órgãos públicos diversos. É uma forma de ‘pagar’ pelo prejuízo causado com seus crimes. Se o detento vai ou não saber aproveitar essa ‘mão estendida’, isso só vai depender dele próprio.
Mas isso justifica o erro pela fuga?
Não, absolutamente. Se “tudo demais é veneno”, o excesso de confiança acabou por resultar no episódio. Não há como julgar, em menos de 48 horas e no calor da emoção, quem efetivamente incorreu no erro. Uma sindicância será aberta para o devido procedimento. Mas de uma coisa podemos ter certeza: quem mais saiu perdendo com isso tudo foi o próprio apenado.
Existe preso de confiança?
É óbvio que sim. E muitos! O sistema prisional brasileiro obriga o agente penitenciário a ter presos de confiança. O sistema só funciona se confiar em alguns detentos. A sociedade não ‘banca’ um sistema prisional eficiente. Você, leitor, comeria uma refeição feita por presos? Os agentes têm que comer. Você beberia da água controlada pelos presos? Os agentes têm de beber. Quem vai limpar o chão do presídio, senão os presos? Quem vai capinar o mato que cresce nos presídios, senão os apenados? Quem vai cortar a carne que será servida no almoço? Como permitir esses e outros trabalhos aos presos, sem lhes dá as pás, as facas, as enxadas e a CONFIANÇA necessárias ao serviço? O agente é obrigado a confiar no preso. E você, muitas vezes sem se dar conta, confia seu carro na mão de um preso num estacionamento qualquer de rua. É do Semiaberto, mas é preso!
Mas não daria para selecionar melhor os presos em quem confiar?
Apesar dos crimes absurdos cometidos pelo preso em tela, ele preenchia todos os requisitos para não fugir nessas circunstâncias. No dia 05 de Setembro de 2011 (ou seja, há dois meses), por exemplo, o defensor público Carlos Alberto de Souza enviou um ofício ao Juizado da Execução Penal, solicitando a Progressão de Regime do citado apenado, tendo em vista que ele já cumpriu mais de 1/6 da pena em Regime Fechado. O preso fujão já trabalhava na cozinha do presídio há mais de quatro anos, nunca decepcionou a direção nem os agentes e, por isso também, teria sua pena reduzida pela remissão do trabalho e bom comportamento. Ou seja, estava muito perto de o detento em questão passar a cumprir pena no regime Semiaberto, passando o dia em liberdade (quem sabe tomando conta do seu carro...) e se recolhendo na Casa de Albergue do Monte Santo, à noite. Que motivos esse preso teria para fugir no último sábado?
Se havia dois presos, por que apenas um fugiu?
Porque preso é feito de carne e osso. Os dois tinham motivos de sobra para não surpreenderem os agentes. Um deles achou por bem desperdiçar esse crédito. “Cada cabeça é um mundo”. Homens confiam em mulheres, e vice-versa. Se casam, moram juntos e um dia eles simplesmente se matam. Com preso não é diferente. Muitos aproveitam as fragilidades do sistema prisional, pedem para trabalhar no presídio e na primeira oportunidade fogem do recinto. Outros cumprem sua pena inteira, no mesmo presídio e com as mesmas ‘facilidades e fuga’, mas não vão embora. Preso é feito de carne e osso e, queiramos ou não, se for trabalhar diuturnamente ao lado dos agentes, ganham a ‘confiança’ dos seus vigilantes. O cerne da questão é saber onde está o limite. Você confia no seu filho que chega em casa quase todos os dias às 2h da manhã?
Isso é mais um motivo para que a confiança seja vigiada...
Claro. Como dissemos, pelo que se apurou até o momento, o que houve foi excesso de confiança, alimentado pela rotina do agente penitenciário, que no seu dia-a-dia é obrigado a confiar no preso. Patrões confiam em empregados; pais confiam em filhos; sócios se unem pela confiança; Dilma confiou nos seus ministros. E em todos esses casos, a relação [necessária] de confiança deu problema. Dizer que “não se deve confiar em apenados” é desconhecer o funcionamento do sistema prisional no Brasil. Ou, em alguns casos, apelar por notoriedade fazendo uso da pirotecnia.
Transcrito do site www.paraibaemqap.com.br
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