O Jornal da Paraíba trouxe no último dia 03, uma importante matéria " Ser Agente Penitenciário na Paraíba é viver em constante risco".
Hoje,
60 profissionais estão afastados para tratamento de saúde; os
recentes casos de homicídios
envolvendo agentes como vítimas causa medo na categoria.
No
trabalho, eles evitam demonstrar medo. Na rua, tentam viver no
anonimato, escondendo a farda
e o distintivo que os identificam como Agentes de Segurança Penitenciária. Vivendo sob o clima
constante de ameaça e insegurança, os profissionais que têm a
missão de cuidar das prisões, temem
pelas suas vidas. Os Agentes trabalham sobrecarregados: são cerca de
1,3 mil profissionais,
mas apenas 500 nos plantões para dar conta de quase 10 mil presos em
todo o Estado. Em meio ao perigo e dificuldades, muitos acabam desistindo da
profissão. Por semana, pelo
menos um agente pede exoneração do cargo, segundo dados da
Secretaria de Administração Penitenciária
(Seap).
O
presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários da Paraíba,
Manuel Leite, disse que o número
de agentes penitenciários é de aproximadamente 1,3 mil, sendo que é
preciso subtrair desse
total os profissionais que estão afastados para tratamento de saúde,
férias, ocupando cargos de
direção, etc. “Na ativa, hoje, fazendo plantão nos presídios e
cadeias públicas da Paraíba, não temos
mais que 500 homens”, destacou Leite. Aumentar o efetivo é uma das
reivindicações da categoria.
Atualmente
cerca de 60 Agentes estão afastados para tratamento de saúde,
segundo informou a Seap.
Os recentes casos de homicídios que tiveram agentes penitenciários
como vítimas deixam os
profissionais ainda mais cautelosos. As vítimas foram Nicássio
Lima, morto na porta de casa, em
Bayeux; José Marcelino, agente aposentado, no Jardim Treze de Maio;
e Ivonilton Coriolano Júnior,
em João Pessoa. O corpo de Coriolano foi encontrado com pés e mãos
amarrados, no rio Jaguaribe.
A polícia identificou os suspeitos dos crimes, mas se isso traz
algum conforto à família das
vítimas, não tranquiliza os agentes que estão diariamente nas
prisões e temem entrar para as estatísticas.
“Quem
entra no sistema não consegue ter a mesma vida de antes”, disse um
agente penitenciário que
não quis se identificado. Ele está no sistema há um ano, mas já
sente os efeitos do estresse. O agente
revelou que a família teme pela segurança dele. “O fato de
estarmos em contato direto com
os sujeitos do crime, nos torna um alvo em potencial, por isso não
podemos nos descuidar. É um
estado constante de alerta”, declarou. Os
agentes evitam frequentar locais públicos, como shows na praia e até
eventos religiosos, porque
temem serem alvos da violência. Se vão a restaurantes, adotam
estratégia para ter uma visão
ampla. “O agente que fica de costas para a entrada do
estabelecimento está vacilando”, comentou.
Sobre o distintivo, eles preferem guardar em local seguro, para
evitar a identificação em
casos de assaltos. Em alerta ficam não apenas o agentes, como também
seus familiares e amigos.
De Agente a preso por homicídio
Carlos
Alberto Barbosa, ex-agente penitenciário e hoje cumpre pena de
homicídio no Presídio do
Roger. Durante
12 anos, Carlos Alberto Barbosa exerceu a função de agente
penitenciário, passando por vários
presídios de João Pessoa e Campina Grande. No Serrotão, chegou a
ocupar o cargo de diretor adjunto.
Em sua experiência profissional ele coleciona lembranças amargas,
como das vezes
que foi feito refém e que tentou evitar fugas no sistema carcerário
da Paraíba. Mas a vida do
agente teve uma reviravolta impressionante: há um ano ele cumpre
pena por homicídio no Presídio
do Roger. Barbosa
disse que matou para não morrer, após ser reconhecido por
criminosos enquanto bebia em
um bar, no bairro de Mandacaru, em João Pessoa. “Ele (a vítima)
começou a me provocar.
Embora
eu tivesse largado a vida de agente penitenciário, o rosto fica
marcado”, declarou. Segundo
Barbosa, após sucessivas provocações, a vítima partiu para cima
dele, que estaria desarmado.
“Na briga corporal, consegui tirar a arma dele e atirei”,
afirmou. Dias depois o ex-agente
se apresentou à delegacia e de lá foi levado para o Presídio do
Roger, onde aguarda julgamento
pelo crime de homicídio.
A
história de Barbosa desperta curiosidade na penitenciária. Ele, que
era conhecido por ser um agente
'linha dura', agora convive com os presos de 'igual para igual'.
Segundo Barbosa, que considera
a prisão injusta, disse que percebe os olhares diferenciados de
outros presos, mas que busca
manter a harmonia tanto com os colegas de cela quanto com os antigos
colegas, os agentes penitenciários.
Ele
contou também que decidiu largar a profissão para atender aos
apelos da mulher e dos filhos, que
viviam assustados. Ao longo dos anos que passou nas prisões, Barbosa
desenvolveu problemas
psicológicos, mas nunca recebeu assistência por parte do Estado.
“Eu vivia assustado.
À
noite tinha pesadelos, acordava chorando. Depois que você entra no
sistema não tem mais tranquilidade”,
explicou o ex-agente. Depois de ter sido feito refém por duas
vezes, no Roger e na Máxima
de Mangabeira, Barbosa ficou com o psicológico ainda mais abalado.
O
trauma de quem já foi refém de presos
“Foi
no momento do banho de sol. Eles (os presos) nos fizeram reféns,
tomaram nossas armas e conseguiram
fugir do presídio. Isso foi há 20 anos, mas até hoje as lembranças
continuam fortes e ainda
me perturbam”, declarou um agente penitenciário que pediu
anonimato. Com 35 anos no sistema,
ele disse que já se afastou pelo menos dez vezes para tratamento de
saúde. “O estresse aqui
dentro é intenso, não tem como ser a mesma pessoa”, destacou. Conforme
declarou o agente, que já trabalhou no Roger, Máxima, Sílvio Porto
e Média, conviver diariamente
com presos acusados dos mais diversos crimes abala o emocional de
qualquer pessoa.
“Eu diria que é um clima de tensão que não se acaba quando a
gente vai para casa, pelo contrário,
aumenta. Nas ruas temos que ter cuidado redobrado com nossa segurança
e da nossa família”,
afirmou o agente penitenciário, destacando que não tem medo de
encontrar desafetos na rua,
mas evita se expor.
Ele
disse também que, pensando em seu bem estar, busca tratar os
apenados de forma justa e harmônica.
“Não podemos tratálos com desdém ou com violência.
Primeiro porque isso é
contrário aos direitos humanos, segundo
porque temos que pensar em nós e na nossa família”, explicou.
Nas ruas, o agente disse que nunca teve problemas com ex-apenados
que encontrou, mesmo
assim prefere ficar em alerta.
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